Li esta frase no muro de uma fábrica no caminho que
uso para chegar à universidade. Pensei em quem poderia tê-la escrito e o que
sentia enquanto a marcava naquelas paredes cinzentas.
Creio que os melhores momentos de reflexão são estes
que nos perturbam e que não nos deixam chegar a uma conclusão apenas. A verdade é que fiquei a pensar pra dentro. E
dentro de mim, percebi, que existe um medo muito grande de enlouquecer por
completo.
Enlouqueço aos poucos com as rotinas que nos impõem
um ritmo estrangulador em que não temos tempo para pensar sobre nós mesmos.
Enlouquecedora é a ausência de tempo para escrever cartas a quem se ama,
conversar com um amigo que há tempos não se encontra, respirar pausadamente por
um instante sem pensar que se está perdendo um tempo precioso de trabalho,
estudo, produtividade e demais exigências às quais somos submetidos e as
cumprimos mais por obrigação do que por vontade.
Chego então a pensar que existem muitos loucos neste
mundo e que vivemos em uma sociedade doente em que a posse se tornou mais
importante que a solidariedade e o sentimento de fazer parte em conjunto. Tentam
nos ensinar desde pequenininhos que a felicidade se consiste na superioridade em
relação aos outros. Pensando bem, pensando em tudo, desse jeito este mundo a
mim não serve de nada.
Começo a achar que precisamos muito mais de gente que
escute mais do que fale de si mesmo.
É preciso tomar cuidado para não enlouquecer sob a
opressão do tempo sobre os nossos ombros. De fato, e cada vez com mais certeza,
afirmo: O tempo do mundo não é o tempo que eu sinto por dentro.
É preciso mais versos entre os segundos. É preciso
mais acordes entre os minutos. É preciso combater a doença da pressa e do
imediatismo. É preciso que se realizem atos públicos contra o egoísmo. É preciso
desenvolvimento humano com música e poesia em meio à contagem dos dias.
É preciso tomar muito cuidado para não enlouquecer,
pois o mundo embrutece os que não fogem dele de vez em quando. E que ótimo
seria se não precisássemos fugir.
Para os que desejam o mundo ao avesso plantando a
semente da meritocracia, da ordem e progresso, sou uma grande louca. Para mim a
sanidade dos servos do tempo esmagador é a pura loucura que não há como ser
admirada. Uma loucura incapaz de realizar um suspiro que seja, de arte, amor e
humanidade.