tudo é provisóriamente eterno para os poetas... tudo é eternamente provisório para os amantes e o poema apenas a configuração do instante.

-Capinam-

28 de setembro de 2013

Dentro.

Não tinha para onde ir, não havia o que fazer, não sabia a quem chamar.
De repente ficou sem ar, sem chão, sem saber...
Já não havia um lugar que acreditasse ser seu.
 Já não sentia parte, com todos os seus sentimentos, de qualquer coisa... como outrora havia sentido.
Mas sentiu que havia amor, que haviam esperanças e assim sustentou-se dia após dia, as vezes cambaleando, as vezes saltando de alegria efêmera... mas o que lhe dava mais sentido eram os discos, as películas e o bom vinho que tomava sozinha e com saudade.
Não havendo para onde ir, ia para dentro de si e assim se aprofundava... onde poucos haviam conseguido chegar.
Era noite e tinha um colorido especial nas ruas, no portão, no quarto de dormir, na mobília e nos próprios olhos diante do espelho. Sua alma resplandecia com um fervor que não via há tempos.
Finalmente voltou a se enxergar: no meio do caminho do não caminho, ser si mesmo era o melhor a se trilhar...

Pensou.
Foi.

Si.

18 de julho de 2013

Enlouquecer

É preciso ter muito cuidado para não enlouquecer.
Li esta frase no muro de uma fábrica no caminho que uso para chegar à universidade. Pensei em quem poderia tê-la escrito e o que sentia enquanto a marcava naquelas paredes cinzentas.
Creio que os melhores momentos de reflexão são estes que nos perturbam e que não nos deixam chegar a uma conclusão apenas.  A verdade é que fiquei a pensar pra dentro. E dentro de mim, percebi, que existe um medo muito grande de enlouquecer por completo.
Enlouqueço aos poucos com as rotinas que nos impõem um ritmo estrangulador em que não temos tempo para pensar sobre nós mesmos. Enlouquecedora é a ausência de tempo para escrever cartas a quem se ama, conversar com um amigo que há tempos não se encontra, respirar pausadamente por um instante sem pensar que se está perdendo um tempo precioso de trabalho, estudo, produtividade e demais exigências às quais somos submetidos e as cumprimos mais por obrigação do que por vontade.
Chego então a pensar que existem muitos loucos neste mundo e que vivemos em uma sociedade doente em que a posse se tornou mais importante que a solidariedade e o sentimento de fazer parte em conjunto. Tentam nos ensinar desde pequenininhos que a felicidade se consiste na superioridade em relação aos outros. Pensando bem, pensando em tudo, desse jeito este mundo a mim não serve de nada.
Começo a achar que precisamos muito mais de gente que escute mais do que fale de si mesmo.
É preciso tomar cuidado para não enlouquecer sob a opressão do tempo sobre os nossos ombros. De fato, e cada vez com mais certeza, afirmo: O tempo do mundo não é o tempo que eu sinto por dentro.
É preciso mais versos entre os segundos. É preciso mais acordes entre os minutos. É preciso combater a doença da pressa e do imediatismo. É preciso que se realizem atos públicos contra o egoísmo. É preciso desenvolvimento humano com música e poesia em meio à contagem dos dias.
É preciso tomar muito cuidado para não enlouquecer, pois o mundo embrutece os que não fogem dele de vez em quando. E que ótimo seria se não precisássemos fugir.
Para os que desejam o mundo ao avesso plantando a semente da meritocracia, da ordem e progresso, sou uma grande louca. Para mim a sanidade dos servos do tempo esmagador é a pura loucura que não há como ser admirada. Uma loucura incapaz de realizar um suspiro que seja, de arte, amor e humanidade.

31 de maio de 2013

Encontros

Boa noite, caro amigo.

Escrevo-te esta carta datilografada, mais para dizer a mim mesma do que dizer a ti, a respeito de encontros... porque acredito que pouco pensamos sobre eles.

Caso queiras me perguntar se acredito em destino, lhe adianto que não sei ao certo sobre estas coisas de futuro... e isso não vem ao caso, também. Quero lhe falar nesta noite em que escrevo, neste momento em que abres este envelope viajado, que podemos não perceber... mas somos todos feitos de encontros.

Gostaria de te dizer que já tive muitos encontros especiais nesta vida... encontros de alma, sabe?  Destes que acontecem quando há um envolvimento do que é de verdade em alguém com o que é de verdade em você e então você fica extasiado e surpreso em como de repente se consegue sentir, falar, ouvir esse alguém de uma forma tão diferente de todas as outras pessoas.

Somos feitos dessa matéria que é o envolvimento de uma alma à outra. Algumas pessoas chamam estes encontros de amor, outras de amizade, outras de outros nomes... na verdade isso também não importa. Importante mesmo é saber o que fazer quando se tem um encontro tão especial como este. Você já parou para pensar nisso, caro amigo?

No ultimo mês de abril eu tive um encontro especial... Mas muito mais surpreendente do que eu imaginava que poderia ser. Estava pela vida sem eira nem beira, sem lenço nem documento, vendo a banda passar cantando coisas de amor... aaah o amor... estava quase para desistir do bendito, de tanto apanhar da vida, de tanto amar dolorido.  Mas eu estava lá... na avenida e vi a moça passar, tão bonita, parecia dançar.

Com um andar meio preguiçoso e apressado, de saia longa estampada, acompanhava a banda... a que eu via passar... e passou. Perdi de vista a moça que usava o lenço na cabeça, por vezes no pescoço, na cintura... incrível as várias utilidades que ela dava para o acessório colorido. Eu só sei que ela passou e eu fiquei pelo caminho.

Na manhã seguinte sai bem cedo para cumprir com os compromissos do dia, estava tudo muito tranquilo e o sol raiava forte depois da chuva que havia caído. Sentei-me no local habitual e então eu a vi novamente, para a minha surpresa a moça do lenço colorido estava bem perto de mim... foi quando pude perceber que mais do que o lenço, o seu olhar parecia me colorir também.
Eu não sabia ainda, caro amigo, mas aquele olhar passaria a me acompanhar pelos dias que me restassem.

O fato - e que coisa feia usar “fato” em um texto que fala de coisas de alma - é que minha voz chegou a tremer quando eu disse a ela que queria beijá-la. Eu realmente queria. De verdade eu tinha que ir embora, mas por um segundo tive a certeza que se eu não dissesse a ela o que eu pensava, nos perderíamos outra vez... ela passaria e dessa vez poderia ser para sempre.

A verdade é que eu sentia que aqueles olhos pediam que eu a beijasse. O batom que ela usava era o meu convite particular e irrecusável. Então a sua voz verbalizou o desejo mútuo. E preciso lhe dizer que desde esse momento eu desejo os nossos beijos todos os dias.

O encontro do qual vos falo me surpreendeu pela urgência que tivemos em misturarmos nossas almas, mesmo sem percebermos o que estávamos fazendo. Mesmo sem percebermos a seriedade do que estávamos fazendo. Acontece... caro amigo... que eu me sinto misturada a ela de uma forma extraordinariamente difícil de saber onde começo e onde ela termina.

Decidi te contar estas coisas para que não penses que é mero capricho e exagero dos poetas quando eles dizem que um pedaço de si pertence ao outro que é o objeto do seu amor. Objeto também uma palavra feia nos meio destas outras, mas na maioria das vezes o problema das palavras é a forma como as sentimos e não o seu sentido literal.

Amigo, um pedaço de mim não me pertence mais e o mais louco de tudo é que estou feliz por isso. Veja só! Quanta loucura no ser que vos escreve! De fato, loucura extrema que me levou todos os medos me preenchendo da mais pura coragem e vontade de ser feliz. Minha vontade de ser feliz se mistura à vontade de proporcionar felicidade á dona dos meus bom dias e boa noites diários.

Acreditarias se eu dissesse que passei a andar de um jeito preguiçoso e apressado?

Veja bem... vou entender se me disseres que não acreditas em nada que vos digo. Que isto tudo é falácia de romance literário ou então delírio de tolos. Eu mesma cheguei a pensar desta forma! É que quando se apanha tanto por causa de amor, por causa da indecisão das pessoas, por causa da intensidade do que se sente... por tantos motivos... é mais fácil deixar de acreditar que há mais de um alguém neste mundo que pode te ajudar a ser mais feliz do que você poderia imaginar.

Mesmo assim declaro que minha alma foi surpreendentemente misturada à dela desde o primeiro beijo. E eu te afirmo, sem medo de que aches que é tolice, que vale a pena acreditar e se permitir. Porque o importante não e apenas ter um encontro... mas saber o que fazer quando ele acontece. Importante é reconhecê-lo e a partir daí deixar que ele engula o seu medo, te permitindo viver perigosamente pelos caminhos desconhecidos da alma do outro enquanto o outro te percorre da mesma forma.

Hoje eu não vou encerrar este texto de forma coerente... Me recuso a dar um fim lógico pra esse esboço de pensamento, mas eu gostaria que você pensasse a respeito dos encontros e de como lidamos com eles. O meu encontro, caro amigo, me surpreendeu porque, mesmo sem saber, aconteceu exatamente como eu sempre esperei que acontecesse... e é por isso que eu estou tão feliz.

E eu desejo essa felicidade a ti.


19 de maio de 2013

O amor me tira o sono



O amor me tira o sono.
Foi a primeira frase que me veio à cabeça quando pensei em escrever mais uma carta não postada sobre amor. A verdade é que é verdade, o amor é perturbador.
Alimenta, preenche, pulsa, porém também adoece e pode matar quem o sente. Matar de sorrisos ou de lágrimas, depende. Depende de quê, você diria. Quem sabe, eu responderia sem resposta efetiva.

Há muitas pessoas que já morreram de amor, que estão mortas por dentro, que se fecharam para o mundo, que esfriaram, você as culpa? O amor pode matar e cada vez mais as pessoas tem muito medo de morrer mais de uma vez.

De sorte que a vida pode se colorir de novo e de novo. Veja bem meu bem. Quando um coração se aquece de repente, começa a mudar a cor e os dias passam a amanhecer mais alegres mesmo em manhãs de chuva, fique esperto... porque virão noites sem sono.

O amor é para os que não temem as distâncias. Esse amor que nos perturba é para os que têm coragem, acredito. Para quem não tem medo do salto de um precipício, não canso de dizer. O amor é para quem não tem medo de morrer se o salto não der certo.

Hoje eu amanheci sem medo algum... e preciso te contar umas coisas, assim mesmo, com muitas reticências em quase todas as frases.

Eu gostaria de te contar que já morri de amor, sabe... esfriei, quase me perco de mim mesmo, fiquei destruído. Tive um amor tão grande que quase me consumiu por dentro e quase me levou dessa para uma pior. E te digo mais... se eu pudesse voltar no tempo, não teria mudado uma vírgula sequer dos poemas que escrevi... muito menos ousaria deixar de sentir tudo o que senti.

E não adianta beber, correr... Não se esquece dum amor nem com reza brava do melhor dos religiosos. O amor é teimoso, não nos abandona, não desiste de nós... nós é que desistimos do amor, nos reinventamos, sentimos milhões de outras coisas e o deixamos de escanteio, como que de castigo,como que dizendo a ele para aprender que não se maltrata tanto um alguém desse jeito.

O amor é desses que faz com que os amantes gastem todo o seu dinheiro nas maiores loucuras mesmo quando precisam economizar. Faz-te sorrir, passar horas no telefone, até achar que a saudade é uma coisa boa, viajar... Faz-te ir ao encontro do outro não importando o quão distante o outro esteja. Ouso dizer que se você já teve um grande amor, sabe que não há obstáculo grande o bastante para os que não têm medo. Lembra que te disse que o amor é para os que não têm medo?

Hoje eu amanheci sem medo algum. Veja bem meu bem. Quem diria, você diria. Ninguém, eu responderia de fato.

De sorte que o coração se aquece de novo e de novo dependendo das cores que te surpreendem quando menos se espera. É sério, acredite em mim, pois quem vos escreve é prova viva da capacidade que a vida tem de virar de ponta à cabeça e desvirar a qualquer momento. Sou prova do que o amor pode fazer com as pessoas... e é justamente por isso que te digo: o amor é importante e só se vive plenamente com amor.

O amor me tira o sono... é a primeira frase que me vem à cabeça. E acho que por isso que tenho tido insônias terríveis. Ainda bem. Estou me recolorindo por dentro. Acontece que só desejo viver plenamente e não vejo mal algum nisso. Se você vê, me diga por favor... Porque não se vê com muita clareza quando se está amando, eu sei.

Mas se quiseres um conselho, caro amigo, te dou o seguinte: se tiveres um amor que valha a pena, conserve-o. Quem precisa dormir quando se pode passar os dias e as noites ouvindo Chico e Ana? Quem precisa de sono quando se está febril de tanto escrever cartas e frases sem sentido, como estas? Se tiveres um amor que valha a pena, lute por ele antes que seja tarde demais para uma oportunidade de vivê-lo.

Desejo, de verdade, que tenhas um bom dia, hoje e amanhã... E que o ontem seja bom para boas lembranças apenas, sem rancores ou dores que te esfriem e te acinzentem. Eu realmente gosto de você, mesmo que eu não te conheça. Se eu não te conheço, ainda melhor... assim não tenho motivo algum para não gostar de você. Saiba que essa é uma carta de coração, pois te desejo boas coisas, sempre. Eu desejo que, você e todo o mundo, se permita sentir amor e muita falta de sono.

Eu te desejo mais: quem se ama para dormir quando o sono vier. 


17 de janeiro de 2013

Eu precisava desse teu sorriso.

Enquanto todos os outros se deleitam nas relações permeadas pela posse e pela superficialidade, me apareces de forma inesperada, sutil e carinhosa e preenches os meus dias da mais pura poesia, do brilho nos olhos, do cultivo da esperança e dos sentimentos que valem a pena.

Aqui dentro é apenas mistura, de bem querer, de sinceridade, de versos e rimas, de você e tudo o mais que me fazes sentir. Da presença e do beijo. Do não saber o que fazer e apenas viver o que se deseja viver.

Aqui dentro é apenas lugar de te guardar e guardar apenas o que é leve e bom. Guardar o bem que sinto ao olhar nos teus olhos e ver as coisas que você não costuma mostrar. Guardar apenas o que precisa ser guardado.

Mas que saudade imensa havia sentido e que apenas percebi sua dimensão no abraço do reencontro. Antes nunca havia ouvido falar de saudade saudável que se matasse com simples presença, conversa franca  e coração quente.
A nós apenas os livros que nos resumem. Apenas o bom, o inexplicável e a sensação de nada ter mudado.

“Bem contente de te ver. Eu precisava desse teu sorriso.”
E porque somos de verdade, nunca houve recíproca mais verdadeira.
E o que é raro merece espaço.

Seja bem vinda, novamente.
Sente...

13 de janeiro de 2013

Pra te acalmar


Ouvindo Marcelo Camelo cantar:
"Passo essa canção pra te acalmar
Esteja, morena, você aonde for
Você sabe bem onde fica toda dor, morena
A chuva e um tanto de tempo pra molhar
O vento que bate pra gente se secar."
Hoje, e com você, eu preciso completar, cantarolar...
Sabe essa canção que nos acalma? 
É nossa, morena, do jardim a nossa flor
Cultive-a comigo regando com muita cor
A chuva que cai em nós, deixa molhar...
Contigo todo o sorriso há de durar.
A chuva que cai em nós, deixa molhar...
E o vento levar o que tem que se levar.

.
.
Entra... deixo que faças sua casa
Com o melhor que há de mim.

.






2 de janeiro de 2013

Giselly

Ouvi dizer que há vários tipos de amores e que podemos senti-los em diferentes intensidades vivendo-os de inúmeras formas. Uma grande mistura de muitas variáveis em que não há fórmula alguma que se possa aplicar afim de chegarmos a qualquer tipo de objetivação.
Caímos no poço das coisas inexplicáveis mais explicadas que existem, correndo o risco de afogar-nos em melancolia e discursos exaustivos que servem apenas a nós mesmos...
Antes de me afogar, no segundo do ultimo suspiro tive um filete de sanidade a tempo de entender que, mais do que refletidos, os amores precisam ser sentidos... Desde tal dia, não vivi um dia sequer em vão.

A saudade que sinto não há presença o bastante que sane. É sentimento de saudade eterna e simples saudosismo de uma mistura de sinceridade e intensidade e amor e desentendimento e reconciliação e leitura de olhar e você e.
Ouvi mesmo dizer que há vários tipos de amores, mas muito mais do que o que ouvimos, o que nos forma é o que vivemos. De alma afirmo-vos: há uma mistura inexplicável de amores diferentes em um amor só.

Que me perdoe por externar coisas que por diversos motivos podes desejar ocultar, mas conheço de ti até o que não me dizes... aliás, principalmente através das coisas não ditas. Teus olhos pequenos são como janelas profundas. Sua armadura forte e trincada, muito útil na tarefa de esconder o que já está em carne viva, não se faz obstáculo a quem lhe vê com a sensibilidade precisa.
Há cada vez menos sensibilidade entre as gentes deste mundo.

Me dirás você que sou hipócrita em falar de sensibilidade pois nossos desentendimentos estão aí para provar. Muito já me dissestes que me ama sem meu merecimento. Muito já se passou desde o dia em que nos conhecemos. E eu nada tenho a reclamar além de saudade.

Seu carinho, nossa cumplicidade, sua preocupação, nossa além-amizade.
Além de conceituação qualquer, eu te amo de uma forma de muitos amores misturados...
Todos intensos e apenas nossos: no fim apenas um.

Amor.


Não cabemos mais no pouco espaço de um abraço... já somos bem maiores a tempos.
Eu sei, você sabe, mais ninguém. Não se demore, por favor... Mesmo que eu não mereça.
Também ouvi dizer que saudade mata, mas começo a pensar que as pessoas falam demais as maiores insanidades possíveis.
Tenho tanta curiosidade por gentes insanas, inclusive nós.

Me desculpa, pois sei que não há volta para muito do que já houve.
Mais do que lembranças ainda há muito a partilhar, mesmo que menos do que desejamos.
Mas se prestares bem atenção, está tudo diferente mas como lá no iniciozinho, lembras?
Ah, menos metáforas, sei que não elas não se dão bem contigo. Mas se bem que,

por fora mudastes tanto menina, que fico a pensar...
No medo que tenho de que se percas de mim.

No fim, eu mereço. 
Te prometo.
Eu me esforço.