tudo é provisóriamente eterno para os poetas... tudo é eternamente provisório para os amantes e o poema apenas a configuração do instante.

-Capinam-

9 de fevereiro de 2010

*Armário Colorido

Eu e mais duas amigas, resolvemos escrever alguma coisa... mais como um livro. Tal obra contando histórias reais de um cenário singular de São Luis do Maranhão - um cenário butch. Pode parecer brincadeira, mas são histórias carregadas de amor, ódio, brigas, lágrimas, mas principalmente de companheirismo e lealdade.
Já era pra apresentação de cada uma estar pronta mas, por enquanto eu coloco uma parte da minha aqui... ainda não terminei, nem li de novo, mas tá aí, pra não dizerem que eu não fiz, viu meninas? cuidem logo de terminar as suas. beeeijo.

[Do nosso armário cheio de fatos saem muitas cores - pra não dizer que do nosso armário cheio de cores saem muitos fatos...]

eu,

Cada um é feito de suas maiores alegrias, traumas, sentimentos mais diversos e histórias paralelas... e eu sei que sou formada de tudo isso e um algo mais que não sei dizer com certeza o que é e acho que não pretendo descobrir por enquanto.

Meu nome é Carolina Chaves e eu sou de escorpião. Nascida em novembro e como toda escorpiana, tendo a se mal interpretada pela certa dificuldade de expressar alguns sentimentos e de chorar, quando visível aos demais. Mas não me leve a mal, aprendi a ser assim. Meus 19 anos me ensinaram mais coisas do que normalmente lhes cabe ensinar.

Desde muito criança me recordo das muitas mudanças que já fiz. A cada ano uma cidade diferente me esperava e lembro do quanto eu gostava das luzes pequenininhas das casas que deixávamos pra trás. A cada ano era um começar de novo e sinto que não eram só os móveis que levávamos na carroceria do carro, levávamos também a inexistência de meus amigos de infância e todo e qualquer vínculo com o passado que eu poderia ter.

Lembrar dos anos que vivi me fazem pensar em muitas coisas ao mesmo tempo. Coisas tipo o sorriso. Não sei se há algo mais bonito de se ver no rosto das pessoas que gostamos, mas eu sei que tenho vários sorrisos. Sei por que me disseram – uma menina me disse uma vez – e então comecei a perceber que tem muita gente que sorri de muitos jeitos pra enganar aos outros e a si mesmo. Percebi que meu sorriso, quando não é de pura e simples felicidade, é de exorcismo.

Eu vivo a rir da vida, a própria sorrindo de mim e brincando com a minha cara. Eu vivo pra sorrir porque aprendi a não chorar... só confidenciando lágrimas à mim mesma. E como dizem que a vida é um eterno aprendizado, sempre foi uma aluna esforçada. Aprendi que a menininha que cresceu ouvindo os gritos e brigas dos pais, escondida, precisava crescer. Àquela menininhas que depois tentaram faze-la entender que alguns adultos gostam de molestar crianças, precisava também, mesmo tão pequena, ouvir que seu pai tinha essa doença vergonhosa. E depois entender que ele não era seu pai, que era tudo uma mentira muito grande na sua certidão de nascimento. Eu precisei esconder essa menininha na minha maturidade precoce e não deixa-la transparecer. Afoguei-a no meu sorriso. No sorriso exorcista que estampo na face... sorriso de enganar a si mesmo.

Com o tempo você aprende que nunca vai ser fácil lembrar de certas coisas.
Mas então... eu cresci assim mesmo, entre choro e aprendizado eu também fui feliz todas as vezes que tomei banho e brinquei na rua sentindo a terra viva e molhada tocando os meus pés. Eu fui feliz depois que a mãe se separou e nós duas fomos mais uma vez, começar tudo de novo em um outro lugar... mas dessa vez éramos só nós duas. Duas mulheres pra ganhar o mundo.



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[É difícil ser sutil com algumas coisas.]
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