tudo é provisóriamente eterno para os poetas... tudo é eternamente provisório para os amantes e o poema apenas a configuração do instante.

-Capinam-

19 de novembro de 2010

é só que dói muito.

começamos a esvaziar os armários.
o vazio aumentado em mim.


um dia as coisas mudam. Eu acredito.




um dia, fará diferença, o que se sente.
enquanto isso. Morreu.

2 de novembro de 2010

Verde

É sabor de verde pulsante depois do tempo em que os dias eram apenas neutros e simples demais.

Sabe o tal do tempo? Aquele que as pessoas teimam em dizer que cura tudo? Adivinha só! Essa é a maior mentira que já contaram sobre o amor.
O tempo não cura o amor. Desse amor que já faz mais mal do que bem, que traz dor, tristeza e você quer esquecer. O tempo não cura porque, amor não é doença.
Meu bem, sabe o que o tempo faz? Tira a dor do centro da vida e coloca em um plano diferente para que outro sentimento tome lugar no centro... Não se iluda, porque amor não passa.
E sabe o que é mais magnífico? Não se ama apenas uma vez.
A gente acaba por se acostumar com a dor e vê que ela é suportável quando consegue sentir que é possivel sorrir de novo... que outros sentimentos nos fazem bem.


Recentemente a menininha dos olhos cor de mel levou um susto enorme quando sentiu umas batidinhas no peito... no coraçãozinho que a muito não batia... e então se sentiu feliz.
Felicidade em sentir, em estar viva e em saber que as coisas nunca são fáceis mas que sempre se deve ter esperança.
A tua dor, menininha verde-água, me dói também. Os seus olhos são lindos quando tristes mas muito mais quando sorridentes.
São bonitos de qualquer jeito... nessa beleza que poucos entendem ou não se importam em ver.
Eu me importo. Quero ver o que nunca souberam ver. Quero olhos sorridentes para a certeza e a verdade.
Porque com quem se quer bem, queremos é ser felizes e viver o que temos. "Porque o tempo que temos, se estamos atentos, será sempre exato."
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[sabe o coração? por mais que pensemos que ele já está fraco e fadado a morte... ele sempre pode surpreender. coração é maroto, não liga pra nada alem de sua vontade. Se ele quer pular pela boca, eu vou deixar... porque é bom tê-lo como compania, novamente.]

13 de setembro de 2010

À quem eu mais amei nessa vida.

Eu tentei pensar no que escrever. Não consegui organizar pensamento algum... e por isso ficou tudo assim mesmo, desordenado e com sentimento de saudade.
Saudade de quem mais me amou nessa vida.

Em 1990 o parto de uma mãe solteira foi meu primeiro acontecimento na vida. Minha mãe, a minha vida. Hoje, nas fotos posso perceber o olhar vibrante de uma mulher linda que acabara de conceber, dar a luz ou qualquer quer seja a nomeclatura que é costumeiro dar a esse momento. Eu prefiro dizer que fui parida. Sim, parida e amada desde esse dia até o dia em que findou-se a vida para uma de nós.
A mim, hoje, não importa o fato de termos morado em tantas cidades e estados diferentes todos os anos. O que eu sei é que fomos principalmente só nós duas... duas pra guerrear no mundo.
Tenho orgulho de dizer que o que vivemos, eu e ela, foram os momentos mais significativos e formadores da pessoa que sou hoje. A política, o mst, a realidade, o sindicato, o funcionalismo público, as vezes em que passamos fome, dormimos mal, as vezes em que foi preciso fazer grandes sacrifícios e as vezes que a vi chorar...
A vez em que ela me aceitou como sou e me amou da mesma forma, porque sabia que eu precisava.
E depois vivemos a falência dos rins, a hemodiálise, o medo, a insegurança... tudo vencido por ela... por nós, juntas. E como se não fosse o bastante veio o câncer... com ele a quimioterapia, os enjôos, a queda do cabelo e a fraqueza física. Mas com a força que não sei de onde vinha e da vontade de viver que ela tinha eu a vi vencer todas estas coisas mais.
Eis que chegou o momento em que conhecemos uma palavra fria e triste que, eu não sabia mas, ia me assustar por muito tempo - Metástase.
Essa porra de metástase que significou para mim o medo constante de perder a pessoa mais importante da minha vida, agora era fantasma presente todos os dias. E com ele veio o sangue, escarrado diariamente no balde ao lado da cama... veio a ausência de fome, outra quimioterapia, a dificuldade de respirar, as noites em claro, o hospital, o medo, o choro e a partida.
Partida para nunca mais voltar. Para sempre.

O choro no hospital, no velório e no sepultamento. O choro de todos nós.
Não sei bem quantos "meus pêsames" e "meus sentimentos" eu ouvi... de verdade não sei quantos foram mera formalidade, mas o que lembrarei sempre e darei devida importância é aos abraços sinceros e a atenção que recebi de cada pessoa nesses dias difíceis, escuros e tristes. Os vagalumes que fizeram força pra iluminar meu caminho quando a minha luz se apagou.
Aos vagalumes,
serei eternamente grata.

À minha luz,
sentirei eternas saudades.

E a dor e tristeza ainda existem... mas guardo só pra mim.
Sorriso de exorcismo.
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[poderia ser mais bonito, poético ou emocionante. Mas é só um texto, que eu não tinha intenção de escrever. O que eu senti e sinto nunca poderia ser demosntrado aqui. Eu nunca conseguiria.]
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Para quem eu mais amei na vida, Renise Sandra de Castro Souza, a minha mãe. Alguém em quem sei que vou pensar todos os dias que me restarem.

1 de agosto de 2010

...

A dor

Doía tanto que o choro não bastava. Uma dor grande o suficiente pra se perguntar se valia a pena.
O corte no braço distraía a atenção pra uma dor física muito aquém do que a que doía na alma. Foi ela quem fez, ficou em carne viva e demorou pra cicatrizar, mas no momento em que sangrava, a dor do corpo ajudava a não sentir a dor real, a da vida.
Pensou duas vezes, mirou no pulso, recuou, não tinha certeza. Ligou pra alguém, ouviu uma voz verdadeira e então, não cortou tão fundo quanto planejava.
Dormiu chorando mais uma noite.

Pensava no dia seguinte... e se não tivessem atendido o telefone?


A cicatriz

Não, não há orgulho algum quando olha pro braço. Depois se arrepende.
Não é bonito, mas sente como se tivesse sido necessário... não só a si.
E se perguntam, o que pode fazer além de enrolar um pouco e dar uma resposta mal dada, uma mentira mal contada? Não adimitir que não consegue ser forte sempre.

Consola-se. Ferida na carne cicatriza.
Mas o que fazer com a ferida interna que fica mais profunda a cada dia que passa?

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[Obrigada por ter atendido o telefone.]

9 de julho de 2010

The human condition*

O Cartas tá de cara nova...
Novo template, uma nova cara..
mas na verdade acho que a cara é a mesma, de certa forma...

Fiquem a vontade, sintam-se a vontade.
Entrem pela janela, alegrem-se e chorem comigo...


Há coisas que nunca mudam.



Créditos á Camilinha Chaves que ficou de madrugada...
Esse template é quase um filho.

*[aah, e a obra é do fodão do Magritte]

7 de junho de 2010

Diário de uma Metástase

Passar um dia inteiro longe de casa e pensando no que pode estar acontecendo lá.
Eu a amo, mais que tudo...


Hoje, quando cheguei, a noticia do dia era a de que o sangue agora escorria pelo nariz.
Como se não bastasse cuspi-lo o dia todo pela tosse.


Está emagrecendo, eu vejo. Quando passo pela porta do seu quarto o seu olhar pra mim é de "nossa, que bom que você chegou." Sei que é medo de ir embora, de deixar a vida e me me deixar. De me deixar sem me ver.
Há toda essa vontade de viver... é mais uma vontade de viver por mim.

E ela dorme... eu ainda estudando, vou até lá, beijo-lhe a cabeça e agradeço por esse momento...
de poder desfrutá-lo, de tê-la, mais um dia...
E que venham muitos outros dias, mesmo que não sejam fáceis.





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19 de maio de 2010

Essência.

...
Saber que existe alguém que te vê
muito além do que você mostra
é também perceber que se ainda existe
gente que quer te sentir, mesmo que doa,
é porque você é de verdade
e a sua vida não é vazia...
como a de muitos é.
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[prestar a atenção, sempre. valorizar, sempre.]

18 de abril de 2010

Para pessoas como "ele"... com carinho.



E chega a hora em que a menina se cansa do nariz vermelho e de sorrir sempre.
[pronto. os dias verdes estão cada vez mais cinzas]
Sente que vive as mesmas coisas a tanto tempo que os sentimentos começam a enrugar.
[e os dias são mais cinzas a cada mentira mal contada]

Ouviu dizer por aí que as situações não mudam, só mudam as pessoas.
De fato já pensava que as situações são sempre as mesmas e que por isso mesmo as pessoas, na maioria das vezes, parecem as mesmas. É tudo tão igual, a decepção e a tristeza.
Mas no fim, o fim parece estar mais próximo que o imaginado. O fim já repetido tantas vezes que parece calejar. Parece, apenas.
É o momento do espetáculo em que as máscaras caem.
Acaba a folia, acaba a musica, esgotam-se as boas desculpas, que nem boas eram... e então todos podem se ver com a clareza temida... ah, mas só podem se quiserem...
Sim, caro amigo, de aparência vivem todos os hipócritas. De riso falso e sem maquiagem de palhaço... e da platéia que os aplaude só por conveniência. Fica feio não aplaudir, onde foi a sua educação?

E sabe o circo? Exige o sorriso meio torto da menina que se cansou.
Ela não aplaude.
Por estar cansada das mentiras ouvidas todos os dias, não quer sorrir para o que não tem graça.
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A menina se cansou
E cansada está
Até não sei quando.
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2 de março de 2010

Poesia Comprometida com a minha e a tua vida.

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Para os que virão
Como sei pouco, e sou pouco,
faço o pouco que me cabe
me dando inteiro.
Sabendo que não vou ver
o homem que quero ser.
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Já sofri o suficiente
para não enganar a ninguém:
principalmente aos que sofrem
na própria vida, a garra
da opressão, e nem sabem.
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Não tenho o sol escondido
no meu bolso de palavras.
Sou simplesmente um homem
para quem já a primeira
e desolada pessoa
do singular - foi deixando,
devagar, sofridamente
de ser, para transformar-se
- muito mais sofridamente -
na primeira e profunda pessoa
do plural.
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Não importa que doa: é tempo
de avançar de mão dada
com quem vai no mesmo rumo,
mesmo que longe ainda esteja
de aprender a conjugar
o verbo amar.
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É tempo sobretudo
de deixar de ser apenas
a solitária vanguarda
de nós mesmos.
Se trata de ir ao encontro.
(Dura no peito, arde a límpida
verdade dos nossos erros.)
Se trata de abrir o rumo.
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Os que virão, serão povo,
e saber serão, lutando.
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(Thiago de Mello)

9 de fevereiro de 2010

*Armário Colorido

Eu e mais duas amigas, resolvemos escrever alguma coisa... mais como um livro. Tal obra contando histórias reais de um cenário singular de São Luis do Maranhão - um cenário butch. Pode parecer brincadeira, mas são histórias carregadas de amor, ódio, brigas, lágrimas, mas principalmente de companheirismo e lealdade.
Já era pra apresentação de cada uma estar pronta mas, por enquanto eu coloco uma parte da minha aqui... ainda não terminei, nem li de novo, mas tá aí, pra não dizerem que eu não fiz, viu meninas? cuidem logo de terminar as suas. beeeijo.

[Do nosso armário cheio de fatos saem muitas cores - pra não dizer que do nosso armário cheio de cores saem muitos fatos...]

eu,

Cada um é feito de suas maiores alegrias, traumas, sentimentos mais diversos e histórias paralelas... e eu sei que sou formada de tudo isso e um algo mais que não sei dizer com certeza o que é e acho que não pretendo descobrir por enquanto.

Meu nome é Carolina Chaves e eu sou de escorpião. Nascida em novembro e como toda escorpiana, tendo a se mal interpretada pela certa dificuldade de expressar alguns sentimentos e de chorar, quando visível aos demais. Mas não me leve a mal, aprendi a ser assim. Meus 19 anos me ensinaram mais coisas do que normalmente lhes cabe ensinar.

Desde muito criança me recordo das muitas mudanças que já fiz. A cada ano uma cidade diferente me esperava e lembro do quanto eu gostava das luzes pequenininhas das casas que deixávamos pra trás. A cada ano era um começar de novo e sinto que não eram só os móveis que levávamos na carroceria do carro, levávamos também a inexistência de meus amigos de infância e todo e qualquer vínculo com o passado que eu poderia ter.

Lembrar dos anos que vivi me fazem pensar em muitas coisas ao mesmo tempo. Coisas tipo o sorriso. Não sei se há algo mais bonito de se ver no rosto das pessoas que gostamos, mas eu sei que tenho vários sorrisos. Sei por que me disseram – uma menina me disse uma vez – e então comecei a perceber que tem muita gente que sorri de muitos jeitos pra enganar aos outros e a si mesmo. Percebi que meu sorriso, quando não é de pura e simples felicidade, é de exorcismo.

Eu vivo a rir da vida, a própria sorrindo de mim e brincando com a minha cara. Eu vivo pra sorrir porque aprendi a não chorar... só confidenciando lágrimas à mim mesma. E como dizem que a vida é um eterno aprendizado, sempre foi uma aluna esforçada. Aprendi que a menininha que cresceu ouvindo os gritos e brigas dos pais, escondida, precisava crescer. Àquela menininhas que depois tentaram faze-la entender que alguns adultos gostam de molestar crianças, precisava também, mesmo tão pequena, ouvir que seu pai tinha essa doença vergonhosa. E depois entender que ele não era seu pai, que era tudo uma mentira muito grande na sua certidão de nascimento. Eu precisei esconder essa menininha na minha maturidade precoce e não deixa-la transparecer. Afoguei-a no meu sorriso. No sorriso exorcista que estampo na face... sorriso de enganar a si mesmo.

Com o tempo você aprende que nunca vai ser fácil lembrar de certas coisas.
Mas então... eu cresci assim mesmo, entre choro e aprendizado eu também fui feliz todas as vezes que tomei banho e brinquei na rua sentindo a terra viva e molhada tocando os meus pés. Eu fui feliz depois que a mãe se separou e nós duas fomos mais uma vez, começar tudo de novo em um outro lugar... mas dessa vez éramos só nós duas. Duas mulheres pra ganhar o mundo.



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[É difícil ser sutil com algumas coisas.]
*direitos autorais reservados.

3 de janeiro de 2010

DIA 29/12/09 – Hospital do Coração
Quarta cirurgia em 2 anos.


Como é estranho ver você assim tão frágil, casada, triste e um dependente... e ao ver-te gostaria de saber de onde você ainda tira força...
Estranho lembrar da nossa história e perceber que as vezes os papéis precisam se inverter – mãe e filha.
Hoje nós vamos dormir nesse hospital, eu e você, e só Deus sabe o quanto eu fiz pra te ver sorrir, pra você não pensar no câncer, na quimioterapia, na hemodiálise, na cirurgia e em tudo o que te deixa com medo. Tudo o que me deixa com medo. E só Deus sabe o medo que eu tenho.
Hoje foi o dia em que eu te dei banho, te vesti, te ajudei a se alimentar. Foi o dia de ser os seus braços... e sei que é difícil de acreditar nessa situação, mas eu os serei sempre que você precisar. E quando não for preciso que eu seja os seus, serei os meus mesmo, em abraços para ti. Porque é só vontade de chorar o que eu sinto quando te vejo mal, doente e triste. Porque eu sei que é uma batalha diária que você trava e porque eu imagino o quanto seja difícil sorrir quando se tem tanta dor pra suportar.
Sabe, mãe, não há um só dia que eu não me lembre daquela conversa só nossa na mesa da cozinha:
- Filha eu lembro que eu Brasília nós duas éramos tão felizes e não sabíamos o quanto...
- Ah, mãe... mas daqui a algum tempo a gente vai olhar pra esse momento e vai vê que também foi feliz...
- Não vou não filha... Porque eu não sou feliz. Por mais que eu tente, sorria, dance, só eu sei o quanto eu não sou feliz [chorando]... e só Deus sabe como eu tento.

“só Deus sabe o quanto essa lembrança me machuca todos os dias...”

Lembrar da nossa história, de luta, conquista, coragem, garra e mudança constante não me deixa triste... me faz lembrar de que já passamos por tanta coisa, já vencemos tantas situações que essa também será superada... eu espero que sim... e eu te amo com todos os teus defeitos, medos e nervos. Eu te amo mais do que poderia demonstrar.
Renise de Castro é uma mulher guerreira que já errou muito na vida e que por isso soube perdoar e entender os meus erros. E que por isso sabe ser uma boa mãe. E que, não sei como, ainda vive... e suspeito eu, que ainda vive apenas por mim.
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[foto tirada por mim no dia.]